sexta-feira, 1 de fevereiro de 2008

O instinto não é para a fé

Muita gente pensa que crer no Evangelho é desistir de pensar, assassinar o raciocínio e se entregar à burrice. Falo de Evangelho, não de religião (aliás os que confundem deveriam ler “Religião, uma bandeira do inferno” de Glênio Paranaguá). Crer na religião de fato é mais fácil e cômodo.

Então é comum achar que crer é tarefa fácil. É inútil apresentar Cristo a esses apenas com uma abordagem científica que "valide" qualquer coisa, uma vez que a verdade que Ele é não é só o que aconteceu ontem para ser falada como um relato jornalístico, e nem apenas a verdade verificável hoje, mas além disso (e sobretudo), a verdade hebraica Emunah com caráter de promessa e que tem seu cumprimento no futuro, precisando assim ser confiada para ser discernida, ou seja, a Verdade que Cristo é excede ao que o "entendimento entende"! E isso é de fato loucura para os sábios!

Por mais que a minha fé se cerque de fatos históricos, cuja veracidade é inegável, e isso (passado) me ajude a crer, chega uma hora em que nada ajuda e ai preciso decidir se creio ou não.

Outro dia conversava com um amigo que queria explicações científicas para crer em Jesus conforme Ele disse de sí mesmo. Ele queria que a ciência explicasse a ressurreição, fisiologicamente e de tantas formas quantas fossem possíveis. Só assim ele conseguiria ter fé. Equívoco! Com isso ele não teria fé, ele saberia.

Mesmo a ciência não confirmando fisiologicamente a ressurreição, ainda é ciência o fato de considerar a história para "validar" isso. Posso por exemplo, verificar que o império romano era o maior interessado em manter Cristo comprovadamente morto, que isso explica o local ter sido lacrado e vigiado e as implicações que teriam o rompimento desse lacre. Posso considerar que a ressurreição não foi invenção dos discípulos uma vez que eles nem esperavam que Jesus ressuscitasse, tendo em vista a tristeza de todos, sobretudo a tristeza dos dois a caminho de Emaús, a cegueira deles mesmo estando ao lado de Jesus e a declaração de outro que só acreditaria se tocasse nas feridas. Isso tudo porque por mais que Jesus tivesse dito que era o messias, que morreria e ressuscitaria, o esperado pelos discípulos era de outra forma.

Mas crer assim ainda não é crer em tudo.

Não é preciso nem considerar toda a abrangência do significado de Verdade para saber que pelo conhecimento não é possível entender tudo. Ainda que eu me cerque de vários argumentos, chega um ponto em que nenhum deles tem valor pois só servem para que eu creia como verdade numa coisa que passou. Para perceber essa verdade manifestada agora, ou seja, nesse tempo que se chama hoje, esses argumentos já não servem tanto pois a partir daqui é subjetivo, e por isso JÁ é pela fé.

Quanto mais além do que chamamos de passado se torna a dimensão da verdade, mais pela fé ela é entendida. Mesmo que a ciência diga: “Vejam, é assim que um morto ressuscita”, confirmando a ressurreição de Jesus, isso em nada seria fé para quem visse. Para quem acreditou porque viu, Ele disse: "Tomé, por-que me viste, acreditaste? Bem-aventurados os que não viram e creram!”.

O natural da gente não é crer. O natural é acreditar nos sentidos do corpo. O mais fácil não é crer, o mais fácil é ceder ao instinto que diz “Se eu não vir as marcas dos pregos nas suas mãos, não colocar o meu dedo onde estavam os pregos e não puser a minha mão no seu lado, não acreditarei.”.

Ainda que eu use a compreensão do passado para crer, afinal Jesus valida esse procedimento quando diz aos dois no caminho para Emaús: “Ó néscios, e tardos de coração para crer tudo o que os profetas disseram!“ “Então, iniciando por Moisés e discorrendo sobre todos os profetas, explanou-lhes o que a seu respeito constava em todas as Escrituras.”, ainda assim a fé é para além, pois é a certeza daquilo que não se vê.

Então os que consideram que crer é mais fácil, se enganam. Crer é tomar a cruz e seguir. Crer é o processo de morte que gera vida; é a porta estreita; é o caminho árduo que poucos escolhem. Poucos sim! Pois é engano pensar que o “fenômeno evangélico” é verdadeiro. É verdadeiro como fenômeno, não como evangélico! Basta entrar em algumas “igrejas” e ver...para crer!


hugo


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