quinta-feira, 29 de julho de 2010

Superando a construção social da realidade

"O confronto com universos simbólicos distintos implica um problema de poder, a saber, qual das definições da realidade em conflito ficará fixada na sociedade. Duas sociedades que se defrontam com universos em conflito desenvolverão ambas mecanismos conceituais destinados a manter seus respectivos universos. Qual das duas ganhará, contudo, é coisa que dependerá mais do poder do que da engenhosidade teórica dos respectivos legitimadores. É possível imaginar que sacerdotes de mitologias contrárias igualmente requintados reúnam-se em consultas ecumênicas, discutindo os méritos de seus respectivos universos sem ódio e sem preconceito, mas é mais provável que a questão seja decidida no nível menos rarefeito do poder militar. O desfecho histórico de todo choque entre deuses foi determinado por aqueles que empunhavam as melhores armas e não por aqueles que possuíam os melhores argumentos. A mesma coisa evidentemente pode dizer-se dos conflitos internos da sociedade, nesta ordem de problemas. Quem tem a vara mais comprida tem maior probabilidade de impor suas definições da realidade."

Isso ai é Peter Berger e Thomas Luckmann no "A construção social da realidade".

Eu penso que isso nos diz respeito. Afinal enquanto anunciarmos um reino que é um universo simbólico, nos veremos ameaçados pelos universos contrários e sempre nos entregaremos a mecanismos de conservação do nosso próprio universo. O que sempre vai implicar em apontar outros universos como heréticos e no uso da força diante destes, seja força física ou psicológica (no caso da persuasão que visa o convencimento).

Penso que o Reino seja a superação disso tudo. Como já foi dito: se isso é o mundo, o Reino é o fim do mundo.

Creio que a superação consiste em viver da fé.

"O justo viverá da fé" implica em que ele não viverá dos seus edifícios de significação, do seu "corpo de verdades universalmente válidas acerca da realidade", do seu "conjunto de significados socialmente articulados e compartilhados."

Daí Pedro ser um bem aventurado, pois não foram essas instâncias que o levaram a dizer: "Tu és o Cristo, o filho do Deus vivo."

Já o camarada que tem uma concepção do Cristo e não supera o seu universo simbólico diz: "Se tu és o Cristo, salva-te a ti mesmo e a nós".

Bom, o Peter Berger dá nomes a muitos bois. Eu ainda não sei se ele vai sugerir a superação dessas construções, mas se ele não fizer isso, fica ai a minha sugestão pra você...rsrs

Mais uma vez: "A arte é viver da fé"

bjo


hugo theophilo
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PS: A questão da superação é do Bonhoeffer e está abordada no texto "Paulo no divã de Deus: superego superado" --> http://tinyurl.com/38j73e6
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2 comentários:

René 29 de julho de 2010 às 18:04  

É, Hugo,

A superação é viver pela fé e ter a convicção pessoal de que não se chegou a isto por uma sabedoria própria, mas que isto veio do alto. E que, assim como a recebemos, os outros também poderão recebê-la, se quiserem. Isto evita os embates...

Abração e Paz!

Clayton Nogueira 30 de julho de 2010 às 13:58  

Engraçado também é verificar como muitos simplesmente esquecem dessa realidade do "viver da fé" e embarca numa "aventura" em meio a misticismos, lendas, deuses olímpicos e etc. Deixando de viver a simplicidade da vida baseada em amor e transformando o próprio Cristo num curandeiro, talismã, simples "objeto para salvação", se é que me fiz entender. Vivem a fé de Gideão, Josué, Davi e a "em Cristo" é deixada de lado.
Voltemos a apenas dizer: "Tu és o Cristo, Filho do Deus vivo!" e a acreditar piamente nisso.

Beijos.

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