quinta-feira, 28 de julho de 2011

Sobre linguagem, plurarismo e melquisedec

Surgiu uma conversa sobre a linguagem e expus o meu ponto de vista escrevendo isso aqui --> http://tinyurl.com/3nkx7oo

Depois o Alison expôs o ponto de vista dele e eu pedi permissão para publicar.

Segue:

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Sobre a possível superação da linguagem - será que tal desejo não é mais uma ambição angelical, um desejo platônico de sermos espíritos? Talvez a lamentação por estarmos condenados a linguagem nasça de uma espécie de sentimento calunioso pela condição humana - que é gerada inteiramente pela linguagem. No principio era o Verbo, ou seja, a palavra é algo fundante, ela gera os mundos dos homens - ela não existe para representar o real, mas para produzir o real! Mas, assim como a luz é ao mesmo tempo onda e partícula, simultaneamente a linguagem é nossa máxima potência e nossa maior prisão - é uma condição dos homens. Aí o Gênesis e os linguistas podem estar de acordo. Penso que não se deveria procurar o buraco onde se pode se esconder do imperio da linguagem, e ver nele uma espécie de paraíso perdido, a crença autêntica, o estado de graça. Isso não existe ao meu ver. Até mesmo frente Deus haverá o Verbo, só que este sem as nossas obscuridades produzidas por nosso espaço/tempo, acredito - será o Verbo de Deus e ao mesmo tempo o nosso. Penso que se o evangelho não fosse um engendramento também de linguagem não seria encarnação de Deus, portanto não valeria muito - creio que se pode pensar o evangelho como um corretivo pro nosso sentido de palavra-verdade-luz - que agora é carne - o que não significa que seja mudo, silencio, buraco escuro - uma carne que é palavra, palavra de Deus - glória na tenda de carne. Mas pra mim fica fácil entender que Deus falou em muitas carnes, e que falou aos homens sempre em muito lugares e tempos, coisa que o Evangelho não é contra, ao contrario, afirma e exprime isso. Mas pra mim fica difícil pensar/sentir que Jesus não é digamos uma máxima revelação de Deus na história - e com isso não estou batizando o cristianismo de verdade absoluta. Será que a experiência direta com Cristo não pode nos dar aquela potência de distorcer tudo do cristianismo e ir direto ao ponto, digamos - o que não significa que não sejamos filhos do cristianismo, mas seremos digamos, filhos rebeldes como todo filho saudável. Talvez, sinto, haja uma extemporaneidade latente na experimentação da fé, que arranque ao menos uma parte de nós para fora do tempo/espaço, que pisoteia o Cristianismo em busca do Cristo. Falo tudo isso como insensato. Não sei se há dualismo entre uma revelação absoluta de Deus em Cristo e outras revelações, digamos, apócrifas. Não sei se é preciso escolher uma em vez da outra, entre uma unidade absoluta e uma multiplicidade cheia de diferenças. Talvez instaurar essa escolha seja algo que não preza nada pela multiplicidade. E se a única maneira de afirmar a revelação máxima seja afirmando também os pedaços, os fragmentos, os respingos de Deus em todos os povos e culturas? o que pode ser uma possível interpretação do fator Melquisedec. E se só houver Cristo que abrace e recolha os pedaços que ele mesmo repartiu aos povos desde o principio? Um Cristo despedaçado já em todas as culturas, desde o inicio, mas que no tempo Kairós, o tempo certo, ele aparece, para juntar os fragmentos e formar uma espécie de mosaico universal, onde se pode entretecer a multiplicidade bela da riqueza da humanidade em toda historia e lugar?... Bem, talvez esse tecido só apareça pra nós no porvir, mas desde já os que tem o espírito podem ver e se alegrar com ele. Tudo é nosso. A riqueza das crenças e cultura deveria alegrar quem tem o espírito, ainda que seja preciso vencer o encanto do inusitado que há no estranho e também ver o que há de mortífero aí - pois os homens costumam pegar os fragmentos de Cristo e usarem como bem querem!

Só julgo que não é difícil perceber que esse Cristo despedaçado que aparece para dar um sentido mais reluzente aos fragmentos dispersos é algo bem diferente do fascismo que é o Cristianismo histórico.

Para mim não há dualismo entre ser e linguagem, e não deveríamos escolher um deles - o ser gera linguagem, a linguagem gera o ser, circulo infinito. Impossível de ficar ao lado de um deles.

A resistência contra o cárcere da linguagem, julgo não ser o silencio, mas a poesia. Que isso quer dizer? resistência de dentro, potência de vida que consegue distorcer a linguagem e usá-la para gerar vida, para libertar, não para instaurar o silêncio  - não posso deixar de ver um aspecto poético na maneira como Jesus lida com a Escritura, com muita liberdade.

Há sempre uma dimensão da vida que apenas geme, que é silencio trêmulo, ou apenas voz e grito... onde a linguagem toca de modo frágil... é como se a linguagem fosse uma camada de pele, e abaixo estivesse um mar de magma revolvente e vivo... Mas quando os impulsos de vida irrompem, como vulcões, precisam achar sua expressão na linguagem...

Bem, mas muita coisa disso podemos alcançar por uma intuição simples, acredito, o que não impede de pensar sobre.... Não tenho muitos pensamentos sobre, apenas um sentimento de que a linguagem é nossa máxima condição e nosso cárcere, impossível de rasgar-se... mas que pode ser manobrado pelos impulsos de vida, para fazer viver. A verdade, para mim, é o que faz viver e ilumina. Mentira é o que mata e não algo que não é racional.

Escrevi essa arruma de coisa sem intenção e sem revisão... porque ainda não pensei mesmo sobre nada disso...

Azar o de vocês que não podem sair da linguagem...hahahaha

al duarte


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