sábado, 16 de março de 2013

Estou fora

Não rejeito a noção psicológica de pecado, esse pecado que habita do lado de dentro, que gera uma culpa que aprisiona e que é enfraquecido (ou mesmo anulado) por certa fé num certo amor de um certo Deus. Eu nem rejeito isso. Mas isso é tão...pouco! É uma espécie de "instância" tão pequena de pecado, é um pecado tão privado, tão individual, tão psicologizado, tão desconectado de conjunturas socio-políticas, é um pecado tão sem chão que (só pra citar um exemplo) quando faz uso de algum profeta (que outrora denunciava pecado nessa dimensão mais ampla) o transforma em guru de auto-ajuda! Faz dele um porta-voz de certa moralzinha burguesa, de certa cartilhazinha a ser seguida por quem almeja o sucesso. Mesmo os evangelizadores mais bacaninhas, mesmo os que não são picaretas, costumam reduzir o pecado a essa esfera psicológica. Ai, pra isso, basta falar dessa graça de Deus que tira o peso da culpa e dá o conforto necessário para que o sujeito volte para o seu empreguinho e continue trabalhando para fazer girar a roda do Poder. Tudo sem conflito, numa espécie de gozo espiritual e até na certeza de que é abençoado por Deus...e tudo continua como dantes no quartel d'Abrantes!

Eu estou fora!

Abraçei os meus incômodos. Parei de me desviar dos machados que caiam sobre a minha cabeça. Resolvi deitar com as minhas agonias na esperança de engravidá-las e fazê-las parir...parir algo novo.


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hugo lucena theophilo
http://hugotheophilo.blogspot.com
"Cada um de nós, e cada um dos grupos em cujo seio vivemos e trabalhamos, deve se tornar o protótipo da era que desejamos criar." - Ivan Illich


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