sexta-feira, 6 de fevereiro de 2015

Para um mundo imposto, um mundo oposto.

Sempre me perguntam se é preciso dedicar muito tempo a um mundo oposto para ele começar a aparecer, virar algo palpável e se transformar em espaços de vida onde se possa respirar um pouco. Como toda a nossa agenda está dedicada a um mundo imposto, é comum pensarmos que seria preciso empregar, no mínimo, o mesmo tempo a algo diferente para que isso tomasse, pelo menos, a mesma proporção do que já existe. Até hoje, eu sempre respondi a essa pergunta dizendo que não! Nem de longe é preciso dedicar o mesmo tempo e nem muito tempo. Com cinco minutos diários dedicados a alguma atividade conectada aos ciclos da vida, você vai perceber que ela naturalmente desencadeia muitas outras. Se, por exemplo, você para de usar sacola plástica pra colocar "lixo" da cozinha, isso te leva a precisar de alguns bichos para processarem esse "lixo", ai você começa a brincar de compostagem, depois de minhocário, depois de criar duas galinhas, de repente você descobre que o seu lixo diminuiu drasticamente e que você tem uma máquina que transforma lixo em comida e adubo; e que agora você pode brincar de jardim, e a sua casa começa a mudar de cor, começa a ter cheiro, sabor e começa a ser frequentada por passarinhos, borboletas, joaninhas, abelhas...e você descobre que o seu filho gosta de te acompanhar nessas brincadeiras, de se relacionar com todos os bichos, de entender todos os ciclos, de sentir todos os cheiros e de comer todas as plantas; e todo o trabalho que você tem é ficar fazendo conexões, ligando uma brincadeira à outra: o resultado dessa brincadeira vai pra lá, o dessa vem pra cá, essa se liga com aquela, que se liga com a outra, que se liga com a outra...O lixo da cozinha vai pro galinheiro, que vira ovo (que a gente come quando acorda) e esterco que as minhocas transformam em húmus, que vai pro jardim, que embeleza a casa e serve de comida e abrigo, inclusive para as abelhas que fazem mel e a gente toma quando acorda e...

...voltando...Eu dizia que a minha resposta era não. Não precisa de muito tempo. O que começou com cinco minutos por dia, depois de tudo isso precisa só de uns quinze. Esses dias li um velho que manja dessas coisas dizendo o seguinte: "Há algo que não tem sido ensinado: que uma vez que fazemos algo corretamente, isso vai em frente e faz um monte de outras coisas por si só." (Bill Mollison).

Ai está explicado porque não precisa de muito tempo.

Um pão de fermentação lenta, feito em casa com fermento natural é um grande exemplo dessas coisas que você só começa com bem pouco tempo e elas vão lá, continuam por si, fazem todo o resto sozinhas e ainda te presenteiam com cheiros, sabores, saúde e vida.

Num mundo imposto, comida vira lixo. Num mundo oposto, lixo vira comida. Para um mundo imposto, um mundo oposto.


Milho de pé de parede e ovo de quintal sem dinheiro, sem gasolina e sem veneno. 
O pão não fui eu que fiz. Eu só misturei os ingredientes e liguei o forno 8 horas depois.

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hugo lucena theophilo
http://hugotheophilo.blogspot.com
"Cada um de nós, e cada um dos grupos em cujo seio vivemos e trabalhamos, deve se tornar o protótipo da era que desejamos criar." - Ivan Illich


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