terça-feira, 1 de julho de 2008

Quem fica numa estação do Caminho da Graça, então? (por Marcelo Quintela)

Uma breve análise...

Desde que o Vento soprou por aqui, muita gente passou pela Estação, a partir da qual um processo saudável de vinculamento tomou início. Até hoje ninguém se vinculou ao lugar como membresia arrolada. Não. O Chamado é para sermos membros uns dos outros. Não acho que uma coisa exclua a outra, acho só que a pedagogia do Evangelho exige que seja assim agora, visto que nossas mentes estão viciadas na institucionalização do Corpo (como se isso fosse possível!).

Obviamente, muitos não se vincularam comunitariamente. Tem quem não consiga fazê-lo sem preenchimentos de fichas e anúncios oficiais, cartas de transferência ou benção pastoral.

Outros tentaram ficar, mas não conseguiram se fixar no Nada, se sustentar sobre a falta absoluta de um chão institucionalizado. Ficaram perdidos sem pilares onde se apoiar, chocados com as colunas da secularidade que nos é típica e que chamam ‘profana’. Sentiram-se inseguros sem sacerdotes que os intermediasse, sem vitrais que os inspirassem a mais propícia atmosfera, sem a cultura religiosa que melhor correspondesse à familiaridade de sua cristianização de nascença.

Reconheço que aqui é tudo tão simples que até dá raiva!

Lugar onde as velhas magias, as unções fabricadas e os enredos frouxos não “colam”. Não ficaram porque ficaram decepcionados com uma arquitetura ministerial sem degraus. “Como subir se não há degraus?” Não gostaram de serem designados somente ‘servos’, tendo em vista o vasto currículo do sacro-ofício.

Não se sentiram bem de serem tratados como gente. Aliás, alguns não gostaram da gente. Não gostam de gente que se pareça com gente sem sentir vergonha disso.

Quem fica numa Estação do Caminho da Graça, então?

Por aqui fica quem já não tem mais perguntas a fazer a Deus, mesmo carecendo de muitas respostas.

Fica quem sabe que é doente, quem sabe que é o menor, que sabe que nada sabe e quem sabe como convém saber!

Fica, acima de tudo, quem sabe que é o principal dos pecadores.

Fica quem não tem mais nada nas mãos para negociar.

Quem compra e vende no templo, não agüenta ficar por aqui não... Não tem sentido, não dá lucro!

Fica quem não tem nenhuma ambição para ficar, fica quem já morreu, fica quem faliu.

Para ficar aqui tem que lembrar que aqui não é um lugar de ficar, senão para servir o próximo que por aqui passa. Sim, aqui ninguém faz carreira, mas todo mundo tem compromisso com a samaritanização do amor de Deus na direção de gente roubada e extorquida pelo caminho da vida.

Quem fica por aqui tem que ter reverência pelo semelhante-tão-diferente, pelo diferente igualmente carente, faminto... humano!

Nesse ambiente de liberdade, ninguém é livre para dominar o povo! Ninguém tem liberdade para infringir fardos pesados sobre costas alheias.

Onde liberdade e reverência se encontram, legalismos e libertinagens não contam!

Só fica aqui quem morreu para a Lei, e quem não vive mais para o pecado!

É assim que é. E em três* assim sendo, já deu para ver que É!

Fique aqui, então.

Na mesma Graça,

Marcelo Quintela

Estação Santos do Caminho da Graça

*o terceiro ano de Estação Santos. Artigo disponível na íntegra em:

http://www.caiofabio.com/novo/caiofabio/pagina_conteudo.asp?CodigoCanal=0001403968


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