Conversa com um ateu
Ele leu um texto que escrevi com o título ALTERIDADE (link) e assim começou o papo:
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Hugo meu caro,
em pensar que tive uma participação, por menor que seja, nessa sua nova (ou velha...) empreitada. Nem sei como escrever algo sem que passe a impressão de arrogância ou superioridade. Lembro quando ocorriam aquelas discussões e a querida D. Madalena chegava e colocava uns argumentos muito contundentes contra os meus argumentos bíblicos...
Agora vejo que você tem novos argumentos (ainda que bíblicos, pois sempre foi e sempre vai ser uma faca de dois gumes, onde o velho pode ser remodelado pra continuar sendo bem aceito). O caído se levanta, o próximo torna-se você próprio e o que estava de pé, cuida pra que não caia (mas acaba por ser mostrar frágil e cai).
Tudo é meio de vida ... no fim, o que vale é o dinheiro, é a vaidade, é o poder. Retire tudo isso e veja se sobra alguém.
Abraços.
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Tenho 3 coisas a lhe dizer.
1. A participação que vc teve só foi importante no sentido da negação do que hoje entendo ser uma experiência transcedente, uma vez que todo o seu entendimento da época era caricato em tudo. A sua tendência apologética, aquela visão de batalha espiritual, a sua idéia de salvação e tudo quanto me lembro acerca do seu entendimento de deus. Então hoje, olho para o que vc chamava de fé e lhe digo é tudo o que não tenho e nem terei. Hoje vejo participação nesse sentido.
2. Não tenho argumentos bíblicos como vc diz. Não mesmo. Não procuro ter coerência com a bíblia e sim com Jesus. E acredite, por vezes é preciso largar a bíblia para ficar com Jesus. Entendo que vc não atente p/ isso e não consiga separar as coisas, pois o que vc experimentou só tinha relação com a tal defesa da bíblia.
3. Concordo com você: Tudo é vaidade e poder. Mas eu não tenho parte com essas coisas. Vou lhe dizer algo do fundo do meu saco e das entranhas das minhas tripas: Meu mundo não é daqui.
Abraço
hugo
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Bito da CPS,
A sua fala é condicionada até o talo pela experiência religiosa que você teve. Mais do que você pensa. Freud e/ou Piaget talvez lhe ajudem a entender porque você pensa desse jeito. Eu que sou ignorante identifico daqui, só pelo seu texto, todas as linhas teológicas que forjaram em você a desgraça da experiência religiosa que você teve e que não respondeu em nada o curso desse mundo (e nenhuma responde mesmo!). Assim você abandonou a caricatura da religião (e isso foi massa) e assumiu outra caricatura, dessa vez antitética.
É isso que lhe faz pensar que eu defendo Jesus, afinal era o que você fazia.
A tua fala de hoje "O seu Jesus é um ser caricaturado pela bíblia, não se pode tê-lo de outra forma" é precisamente a antítese da tua fala de antes, pois era o teu jesus que era assim, caricato...rsrsrs.
Se a gente entrasse no assunto do pensamento científico, você precisaria responder ao argumento pós-moderno de que a ciência NÃO caminha sobre fundamentos tão sólidos quanto você ainda parece crer...rsrs. E precisaria considerar o pensador dinamarquês falando sobre o engano de pensar que crer em nada é crer em nada! Precisaria se abrir para ver que a pesquisa científica nasce também da paixão, que existe "certeza no que não se vê" e que no fundo também pode ser vaidade de vaidade e busca por poder.
Fazendo um parêntese: Dizer que não sou desse mundo de poder e vaidade, não me tira do mundo real e natural! Isso é mais uma reação sua à caricatura do crente evangélico que você conhece. A eternidade não cega o homem para o tempo! E não venha me dizer que não crê em eternidade, até o Dawkins crê! Ou você acha que a doutrina da perpetuação do gene é o que? No fundo o Dawkins abraça um desejo de eternidade dizendo que o gene é egoista mah. Ele é que não sabe disso. Talvez precisasse de um divã para perceber...rsrs
Sobre o "meu Jesus", é justamente o contrário do que você pensa. As diversas roupagens é que não resistem a ele. Nenhuma!
Ele não é o bíblico mesmo. E digo isso porque sei o que vc chama de bíbila.
Agora, saindo desse papo abstrato, pois cada vez tenho menos paciência p/ ele, se você tivesse conhecido as implicações éticas do Evangelho de Jesus no chão da vida urbana, no trato com o outro, você ficaria de queixo caído!
Termino aqui, senão você vai começar a achar que quero lhe converter e eu não tenho essa intenção e nem essa capacidade.
Gosto de conversar com vc. E lembre-se: você pode chegar aqui em casa todo arrombado que ainda vai ser meu amigo...rsrs
Abraço
hugo
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Dedos gordurosos do MegaDrive,
Vejo que fez bem o seu dever de casa. Minha experiência com jesus foi mesmo uma lástima, durou pouco tempo (apenas 17 anos). Baseada num livro escrito, supostamente, a alguns milhares de anos por indivíduos que tinham o rei na barriga e achavam que tinham a verdade em suas mãos sem nunca se preocupar em conhecer a verdade dos outros. Esse jesus que me foi apresentado era um jesus CARICATURADO, pois somente de longe se parecia com aquilo que eu esperava experimentar. Ainda bem que me desfiz dessa ilusão. O teu jesus eu não conheço e me parece ser bem mais inteligente que o que me foi mostrado (por pessoas mais leigas que eu), o problema é que ele não tem fundamentação (nem sólida, nem de qualquer outra natureza), já que não é bíblico. Experimentar a etíca do evangelho no chão da vida urbana... o espiritismo faz isso melhor que qualquer outra doutrina. A experiência que tive quando o conheci foi real e ninguém pode dizer nada que se oponha a experiências pessoais, pois como o próprio termo diz, elas são pessoais.
Hoje, como um cético e ateu (e não antitético como você descreveu, pois não posso ir contra aquilo que eu acredito não existir), acredito sim que a ciência deve ser baseada em dados sólidos, pois se assim não for, não é ciência. Acredito que a paixão incentive as descobertas, mas sem nunca deixá-la se opor aos dados e às evidências. A grande diferença entre o cientista e o não cientista está justamente na análise das evidências e não das paixões ou intuições. Ler Freud (mas nunca Piaget) é extremamente agradável, mas te indicaria um filósofo muito melhor (não que Freud fosse um): Daniel Dennet.
A eternidade só existe por que nosso cérebro insiste em querer fazer dela uma realidade. Nos incomoda saber que ela não existe de fato, e por isso tentamos arduamente perpetuar certas coisas. Essa é a essência da vida - a autopoiese.
Por falar nisso, já cumpriu tua missão como uma máquina na qual os teus genes pretendem se perpetuar? Teus genes te criaram somente pra que eles pudessem ter um meio de replicação aceitável. Não os decepcione. Experimente a paternidade, muito embora, nossa máquina de replicação genética seja apenas 50% perfeita.... precisamos de uma outra máquina de sexo oposto para podermos replicá-los.
Espero nunca chegar arrombado, mas adoraria ter sua amizade sempre. O mesmo vale pra você: se chegar todo fudido, ainda sim terá uma mão estendida.
Abraços.
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hahahaha...meu amigo-ruma-de-genes chamado ______, quase me acabo de rir com o teu penúltimo parágrafo...
Tu deve chamar tuas filhas de "meus adoráveis desdobramentos celulares" ne? rsrsrs
Ou então deve chamar a ______ de "máquina do sexo oposto"...rsrs. Cuidado p/ não levar umas mãozadas mah...
Ô comédia.
Esse Dawkins é inteligente, mas não consegue esconder o sincretismo dele que vem juntando coisas de loooonge...rrsrs
O cristianismo não entendeu Jesus. Isso é um fato. Muito menos o espiritismo. O pensamento da doutrina espírita é mágico e a motivação é egoista. Tudo é para o auto-aperfeiçoamento...isso está longe de ser alteridade, muito menos Evangelho de Jesus mah...tu é doido? Está mais para gene egoísta mesmo...ahahhahha
Você está certo: a fundamentação de Jesus não é sólida, cartesiana e de nenhuma outra natureza. Mas eu vou lhe fazer um bem. Vou revelar a você o mistério...rsrsrs...A fundamentação tem a ver com a subjetividade. A mesma que considera existir aquilo que se chama de consciência, por exemplo! Ou a mesma subjetividade que considera existir aquilo que se chama "mente humana".
E a subjetividade dessa fundamentação é insuportável porque exige o alargamento do entendimento que insiste em crer apenas no que os olhos sensíveis podem ver e, nesse caso, (de ser refém dos olhos) a sugestão do pensador dinamarquês é que se deva em primeiríssimo lugar deixar de crer no amor! Afinal de contas o que é o amor? De que reino é o amor? Animal, vegetal ou mineral?
Enfim, subjetividade! Que escapa a esse confinamento pragmático dito científico, que diz que o homem é uma máquina genética cujo único fim é perpetuar seus genes.
Confinante! Confinante!
Deixo você com Chesterton dizendo que "a verdade é que, em um dado momento, tão distante que escapa à ciência, produziu-se uma transição de que não podem ser testemunhas nem pedras, nem ossos, e na qual se revelou a alma humana."
Ora, o Renato Russo cantou o mistério da subjetividade: É só o amor que conhece o que é verdade!
Insuportável, porque é preciso a tal da Metanóia: Transformai-vos pela renovação da vossa mente.
Tão insuportável que deram um jeito de chamar isso de arrependimento...e assim objetivaram e objetizaram a subjetividade!
Agora você tem o mistério...rsrs. É tudo subjetivo. Até o talo!
Mas entendo você. O gene não admite o subjetivo. Amor então nem se fala...isso deve ser algum recurso genético!
Eu leria o Daniel Dennet com toda honestidade e abertura se você me desse de presente. Meu aniversário é em novembro..rsrs
Fica em paz...
Abraço
hugo
22/10/09
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