terça-feira, 11 de janeiro de 2011

Superando a construção social da realidade II

Anomia é a perda da capacidade de nomear as coisas, de significar a vida... é a perda de sentido.

A comunidade tem a função de proteger os indivíduos contra o terror da anomia.

O nomos é o conjunto de significados produzido pelas relações humanas. É o edifício normativo e cognitivo de conhecimento construído socialmente. É baseado no nomos que o indivíduo dá sentido à sua vida e até reconhece a própria identidade. Ser excluído desse edifício pode ser aterrorizante pra quem é protegido por ele. E, olha que interessante: Nenhum edifício é feito só de tijolo e cimento!

Então a comunidade tem essa função: "...o indivíduo recebe da sociedade vários métodos para diferir o mundo de pesadelo da anomia e conservar-se dentro dos limites seguros do nomos estabelecido." *

Ai vem a terapêutica como tentativa de reconciliar o dissidente, como tentativa de fazê-lo "voltar à realidade", de trazê-lo de volta para o abrigo do edifício de significados.

Ainda uma vez, essa é uma função ordinária da comunidade: proteger os indivíduos contra as forças do caos e dar a eles o respaldo social necessário para que consigam dormir tranquilos, seguros de que as suas definições da realidade fazem sentido. Isso é o mundo!

Ai surge um problema...a subversão, o fim do mundo, o Reino de Deus, o convite para o extra-ordinário, a proposta de Jesus: amar o inimigo!

O inimigo não faz parte da minha comunidade e não confirma as minhas verdades. Ele não apenas está fora do meu edifício normativo, mas é uma ameaça a ele. Amar o anômico é superar a construção social da realidade, é superar o nomos socialmente estabelecido, é superar a função ordinária da comunidade.

A criança, o leproso, o preso, as mulheres, o endemoniado, o cego de nascença e o samaritano da parábola são todos anômicos. Com eles (e neles) Jesus mostrava que enquanto o nomos social servir para conferir dignidade aos homens haverá injustiça.

Os anômicos de Jesus são reintegrados ao convívio social não por terem sido reconciliados com o nomos por intermédio dos seus sacerdotes oficiais, mas por terem sido reconciliados com Deus por intermédio do próprio Deus.

"...Deus, que é Pai de todos, que é sobre todos, por meio de todos e em todos...estava em Cristo reconciliando consigo o mundo, não levando em conta os pecados dos homens..." - Apóstolo Paulo


hugo lucena theophilo


* BERGER, Peter. O dossel sagrado. São Paulo: Paulus, 1985

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Veja também:
Superando a construção social da realidade --> http://goo.gl/OutOf


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