segunda-feira, 11 de abril de 2011

Reação

Depois disso --> http://goo.gl/l4DaK recebi alguns emails. Um deles foi da querida Débora...querida e inquieta (graças a Deus)...rsrs

Como as outras reações foram semelhantes, publiquei apenas essa. As outras pessoas que me escreveram se verão nessa conversa.

abraço

hugo

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Oi, Hugo,

Essa questão da felicidade é uma dos temas nos quais a gente discorda. Esse tema é muito complexo e precisaríamos de vários dias para expressar nossas opiniões. No entanto, eu acho que tem algumas coisas que não nos fazem mais felizes, mas facilitam nossa vida. Entre elas: casa (moradia), carro (ou qualquer meio de transporte eficiente), eletrodomésticos, compuatdor, telefone, TV, DVD, entre outros. É justamente por causa dessa característica de extrema utilidade que esses objetos têm que a mídia os explora tanto, comercializando-os de forma selvagem. Eu acho que aí é que está o problema. Não o objeto em si, ou seja, a casa ou o carro, mas o que o sistema capitalista faz com eles.

Por exemplo, aqui em Ithaca eu não tenho carro. A cidade tem um sistema de ônibus bom, mas no fim de semana os ônibus só passam de 1 em 1 hora. Os ônibus não cobrem todas as áreas da cidade, é claro. Para um dos lugares que vou semanalmente, eu pego dois ônibus e ando 8 quarteirões. No fim de semana para ir fazer compra no supermercado eu levava uma hora, se dependesse do ônibus. Então eu ia a pé e levava 15 a 20 minutos cada viagem. Sem problema, se não fosse o frio e o peso das compras. Eu tinha que caminhar e parar de vez em quando porque a mão doía. Fora que eu só podia comprar pouica coisa de cada vez. Nessa hora a gente vê que o carro não nos faz mais feliz, mas facilita muito a vida. Decidi comprar uma bicicleta. Agora na ida pro supermercado eu levo uns 7 minutos porque tem uma subida meio íngreme (haja quadríceps!), mas na volta eu levo 3 minutos! E um carro seria ainda melhor! Entendeu meu ponto de vista?

Outro exemplo. Quando o Juan fez 18 anos compramos um carro pra ele. Nossos horários eram impossíveis de conciliar e ele estudava na UFC, muito longe de casa. Na verdade, eu troquei meu carro antigo e comprei um IDEA. Alguns meses depois comprei uma TUCSON para mim e ele ficou com o IDEA, ambos usados. O IDEA já foi para a oficina várias vezes por diferentes motivos. A TUCSON está intacta. Qual o carro me deixou mais feliz? Nenhum dos dois, mas a TUCSON me dá menos chateação e despesa. Aí a mídia valoriza o carro importado e até o humaniza nas propagandas (já notou isso? Tratam o carro como gente!) e isso também me entristece, mas que carros como Hyundai e Toyota são melhores, isso não há dúvida. Não é felicidade, é praticidade. Desculpa se eu vou deixar vc mais triste, Hugo, mas para mim, viver sem carro é complicado.
 
Então, eu acho que quando a sociedade capitalista descobrir um sistema mais humano de produzir e comercializar os objetos, levando em conta as demandas ambientais, e quando descobrirmos que não valemos pelo carro ou pelo celular que temos, chegaremos mais perto de uma sociedade melhor.

Desculpe, me empolguei!

Débora
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Mas porque é que quando digo isso todo mundo entende que estou condenando o objeto? A casa, o carro? Eu não disse isso! O que condeno é o conceito criado em torno do objeto de modo a fazer dele mais do que ele é. Ter uma casa é uma maravilha, mas o cérebro não atrofia se ela for de taipa, ao contrário, se é pra falar em estimulo do cérebro, você usa mais sinapses fazendo uma casa do que pagando por uma pronta!

Viver sem carro é complicado pra quem tem uma estrutura que demanda deslocamentos grandes e rápidos. E nós crescemos aprendendo que precisamos dessas estruturas grandes. Por, exemplo, quem escapa da crença de que precisamos nos submeter a uma instituição de ensino para sermos educados? E de preferência a maior e melhor, que fica do outro lado da cidade! Quem escapa? A comunidade não pode mais educar seus filhos, é preciso ter instituições responsáveis por isso. Depois ninguém sabe porque é que vira curral eleitoral! E ainda tem a ideologia que identifica o progresso com a opulência. Não basta que sejamos educados pelos sacerdotes do ensino, devidamente autorizados pelo Deus Estado. É preciso que frequentemos os maiores templos. Aqueles que prometem o maior resultado. E o que é o resultado? "O cara que estudou aqui passou a ganhar muito dinheiro!" Ah...paciência!

E a comida? Temos instituições autorizadas a dizer o que devemos comer e autorizada a produzir os nossos alimentos. A comunidade não produz mais o seu alimento. Precisamos de carro pra comer! E, pelo amor de Deus, não pense que precisamos ir pro sertão pra nos livrar disso. A questão não é essa. Não estou chamando ninguém pra viver sem carro, nem pra vender sua casa de tijolos, nem pra ficar sem escolas. Não é disso que estou falando. Mas a culpa deve ser minha. Sempre que falo essas coisas entendem o que eu não disse!

Sobre o meio de produção capitalista, se ele passar a ser mais humano e levar em conta as demandas ambientais, ele deixará de ser capitalista, percebe? rsrssrs

-- Ah, mas você desce o pau em tudo! Qual é a proposta, então?

-- A proposta é viver no mundo sem ser do mundo.

-- É possível?

-- Já foi! Já foi! E pra alguns tem voltado a ser.

bjo

PS; Nem revisei nada. Desculpa ai pelos erros.

hugo
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Então nós concordamos! Não é o objeto. É que fazem com o objeto, humanizando-o e supervalorizando-o.

Existem previsões que dizem que quando o mundo não aguentar mais o que o capitalismo faz com ele e o sistema capitalista falir, surgirá uma nova sociedade nesses moldes que você sugere. Mais autônoma, menos materialista, mais voltada para a natureza a para a maneira mais natural de fazer as coisas.

Bjs

Débora
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Previsões...deve ser as dos especialistas do sistema...rs. Elas ainda preservam o sistema deles, pois dizem que ele precisa sair de cena para a outra proposta surgir. A verdade é que a outra sempre esteve ai...paralelamente.

A discussão foi boa. Posso publicar no blog? Talvez apareça mais alguém.

hugo
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Ouvi sobre essas previsões na cadeira de epistemologia do doutorado. Essas previsões são feitas por economistas, sociólogos e pesquisadores na área de estudos políticos como um todo.

Sim, pode publicar!!

Bjs

Débora


1 comentários:

René 14 de abril de 2011 às 13:40  

"Suas cartas contêm algumas coisas difíceis de entender, as quais os ignorantes e instáveis torcem, como também o fazem com as demais Escrituras, para a própria destruição deles" (2Pedro 3.16). Claro que guardando as devidas proporções.

Sinto muito, Hugo, mas concordo com você em gênero, número, grau, pontuação, acentuação, e o que mais se possa concordar. Sua proposta não é nova, é milenar, mas é, cada vez mais, atual. E, em breve, será decisão necessária e inevitável, pra quem almeja viver o Reino. Na verdade, as previsões já estão se cumprindo: o capitalismo já faliu, só faltando ruir por completo. Prova disto são as inúmeras reuniões mundo afora, em uma tentativa desesperada de resgatá-lo, provocando 'união' entre os que querem se devorar.

E a Débora é um exemplo do que cada um de nós somos: reconhecemos o erro da humanização e supervalorização do objeto, permitindo, no entanto, que este seja justificado por nossas 'necessidades'.

Como entendi você dizer, também não sou contra o objeto, em si, mas percebo que deveríamos rever o que são nossas necessidades.

Abração!

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