quarta-feira, 7 de novembro de 2012

Elas entram primeiro

Ela vende o corpo pra ganhar dinheiro. É doente mental e, nessa história, já tem 3 filhos de 3 homens diferentes que sequer sabe quem são. Todos os filhos doados.

Incomodado, fiquei pensando por que isso acontece. Não é uma pergunta teológica. Talvez sociológica (dependendo do que se entenda por sociologia). Por que uma pessoa fora dos padrões tem acesso tão fácil à prostituição? O que acontece? O que está envolvido? Por que uma pessoa como ela não cai, com a mesma facilidade, nos braços de uma comunidade que compartilha e produz saberes, conhecimento, arte...por que? Quando faço essas perguntas dou um tempo pra ver se a resposta vem...se alguém invisível me responde, já que pergunto em silêncio. Passei uns minutos sem respostas, mas logo começaram a chegar. Então, a partir daqui é psicografado...rsrs...já não sou eu, são as vozes. Pois é, eu ouço vozes!

O sexo é uma das poucas manifestações da vida que não foi completamente capturada, institucionalizada, sistematizada, burocratizada. Quanto mais a vida está capturada em suas manifestações, menos alternativas livres restam para quem não tem capacidade de se submeter aos padrões, aos rostos (rostificação: o tal mecanismo de aprisionamento da vida). Quando tudo o que existe são rostos, o que sobra é a margem, aonde a vida consegue escapar: a rua, o sexo...o sexo na rua, por exemplo. Comunidade, produção de saber e de bem-viver não são manifestações livres. Existem sistemas de poder cujas existências já pressupõem o controle da vida. Estado e Religião são dois (há quem diga que são um só!). Seus funcionários culpam aquela moça sem se darem conta de que trabalham para a indústria que produz aquela situação. Vivem de dizer que a moça é culpada pela vida que leva e vivem de oferecer seus produtos como solução para o problema que criam. Talvez por isso Jesus tenha dito que, no Reino de Deus, moças como aquela entram primeiro do que esses funcionários.

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hugo lucena theophilo
http://hugotheophilo.blogspot.com
"Cada um de nós, e cada um dos grupos em cujo seio vivemos e trabalhamos, deve se tornar o protótipo da era que desejamos criar." - Ivan Illich


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