Sobre rótulos e modos de vida
Vira e mexe vem a pergunta pelo rótulo. "Hugo, por que tu não usa rótulo nas kombuchas, nos pães, na ghee?". A resposta é longa e talvez só faça sentido numa conversa ao redor da mesa, explicando particularidades, comendo pão e bebendo kombucha...rsrs. Mas vou tentar explicar por aqui. Eu não tenho mercadorias para vender. Eu tenho um modo de vida. Uma tentativa, melhor dizendo, de modo de vida...dinâmica, cheia de ciclos e fluxos, como a vida e todo processo vivo de aprendizagem. Que produz, é verdade. Qualquer modo de viver reconciliado com o passado, resgata (em algum nível) a casa como centro de produção e a livra da condição rebaixada de mero centro de consumo. Então, sim, há produções, mas não mercadorias. Eu perderia muito se tentasse ser um produtor de mercadorias destinadas a clientes desconhecidos. Se fizesse isso, precisaria de rótulos que na minha ausência dariam algumas informações como "de onde isso veio", "quando foi feito", "o que tem dentro", "quando estraga", etc. Mas eu não posso produzir assim, pois, além de não querer, não tenho capacidade. Eu sou um dono de casa. Não tenho um negócio. Não consigo ter clientes que não sei quem são. Eu não consigo atendê-los. É inviável ter clientes. Eu só consigo ter amigos. Amigos sabem onde moro, o que produzo, quando produzo, como produzo! Muitos vieram na minha casa aprender a produzir. Conhecem o meu modo de vida. Sabem que eu não produzo kombucha. Sabem que eu tenho um modo de vida que produz kombucha. A diferença é radical. Sem o meu modo de vida, a minha kombucha é nada. Eu produzo sentidos. Sentidos são conteúdos, não são rótulos.
Depois das últimas podas, as pitangueiras e a goiabeira já têm galhos novos. Em breve terei kombucha de pitanga e de goiaba novamente.
http://hugotheophilo.blogspot.com
"Cada um de nós, e cada um dos grupos em cujo seio vivemos e trabalhamos, deve se tornar o protótipo da era que desejamos criar." - Ivan Illich
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