segunda-feira, 12 de julho de 2010

Abram-se!

Ele se dirigiu ao púlpito olhando para o chão. Colocou a bíblia no apoio e, enquanto folheava o livro até alcançar a página desejada, começou a falar usando frases curtas e intervalos entre elas.

"Vou ler Lucas.
Vocês não precisam abrir a bíblia.
Vocês não vieram aqui para abrir a bíblia, vieram aqui para abrir o coração.
Efatá! Abre-te.
De que adianta abrir a bíblia com o coração fechado?
Nós estamos entupidos e o meu desejo é que esse seja um momento de desentupimento.
Aliás o Evangelho é um desentupidor de almas."

Ele continuava procurando a página que iria ler. E continuava falando sem levantar a vista.

"Vejam Saulo...instruído aos pés de Gamaliel
Seria Rabino!
Alguns dizem que foi.
Rabino Shaul!
Fariseu de fariseus.
Saulo...profundo conhecedor das escrituras e um homem entupido... fechado.
Tinha olhos mas não via.
Um homem de dois olhos e cego....completamente cego.
Precisou perder a visão para enxergar.
Abrir as escrituras não tinha sido suficiente.
Precisou abrir-se.
Portanto abram-se."

Ele achou a página, calou-se e olhou para o público como se tivesse ouvido algo.

"Antes de começar eu ainda preciso...perdão...vocês ainda precisam que eu diga algo. É  uma tentativa de lhes conduzir a essa abertura necessária...
Enquanto eu dizia que "abrir a bíblia não quer dizer nada" eu quase pude ouvir a réplica do pensamento de vocês. É verdade que não consegui ouvir, mas vi o que pensaram.
Meus queridos... – ele tirou o microfone do suporte, e, afastando-se de onde estava, começou a andar em direção ao público – eu não creio que seja possível abandonarmos totalmente nossas certezas enquanto ouvimos uma opinião diferente da nossa, não é possível, mas penso que seja necessário. E sendo necessário, mas não sendo possível, devemos ter a honestidade de pelo menos colocar nossas certezas em revisão enquanto ouvimos outro ponto de vista.
Uma das condições necessárias no trato com a verdade é não estarmos demasiado certos de nossas verdades. O trato com a verdade não é compatível com a arrogância da certeza. Sem abertura não é possível haver a revisão mental que vocês chamam de arrependimento...aquele alegre e constante processo de revisão mental, que é recomendação de Paulo, o apóstolo. Sem essa abertura, quando ouvimos um ponto de vista diferente a única coisa que nos resta é o afrontamento da réplica. A minha declaração de que "abrir a bíblia não quer dizer nada" encontrou vocês fechados. E a réplica de vocês, o que vocês pensaram imediatamente, quase me chegou aos ouvidos. Consegui ver vocês rejeitando o que eu disse e vi o argumento que usaram para rejeitar. Surgiu em vocês a frase de Jesus que é usada com freqüência para reforçar a importância da leitura bíblica. Vocês costumam repetir " Errais não conhecendo as escrituras..." Meus queridos, lembrem-se que essa frase não foi dita como vocês dizem. Não foi dita na intenção de fazer alguém que não conhecia as escrituras passar a conhecê-las. Essa frase foi dita justamente para quem as conhecia profundamente. Essa frase foi dita aos saduceus...conheciam tanto as escrituras que questionaram Jesus citando Moisés: "Mestre, Moisés nos deixou escrito que..." O que mostra mais uma vez que abrir a bíblia não quer dizer nada. Portanto abram-se. Abandonem o castelo da certeza teológica, pois era nesse castelo que moravam os religiosos que mais rejeitaram e conspiraram contra Jesus. Efatá! Abram-se."

Todos ouviam.

"Vou ler Lucas..."


hugo
20/03/10


1 comentários:

Gleson 20 de março de 2010 às 16:10  

Nota 10. Estava meditando a pouco sobre esta questão e vim aqui na internet e vi o seu email e quando abri... quase nao acreditei, era justamente o que me passava a mente. Parabens pelo comentario.
Gleson

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