terça-feira, 17 de janeiro de 2012

As crianças - Uma agonia

"Eu lhes asseguro que, a não ser que vocês se convertam e se tornem como crianças, jamais entrarão no Reino dos céus."

Essas palavras martelavam em sua cabeça. Sobretudo porque identificava nas crianças uma condição pré-moral. Sabia que elas preservavam uma característica que só os ainda não socializados (os ainda não castrados pelo processo civilizatório), preservam: a ignorância moral, a não interiorização da moral como escala absoluta de valores. E o tormento era devido à impossibilidade de voltar a tal condição, afinal crescera, já era um indivíduo socializado e, portanto, carregava dentro de si a dicotomia confinante que devora crianças e as transforma em adultos aptos a reproduzirem a ordem estabelecida e a terem nisso as suas satisfações.

Atormentado e a fim de conseguir dormir, tentava resolver o conflito trazido por essas palavras. Passou, então, a considerar que esse retorno seria na verdade uma superação, a superação de um estágio: esse moral em que nos movemos e existimos. Assim, voltar a ser como criança seria voltar àquela condição amoral, não mais por ignorância e sim por uma superação, como o Mestre, que fazia uso de outra escala de valores. No entanto, ficou claro que a tentativa de se livrar da agonia dera com os burros n'água. Quanto mais tentava, mais ficava encurralado, mais entrava num beco cuja única saída seria a decisão por um corte.

...continua em As crianças - Um sonho e duas árvores


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hugo lucena theophilo


1 comentários:

René 17 de janeiro de 2012 às 18:17  

Sacada brilhante: criança = um ser ainda não contagiado pela moral (religiosa ou não).

Abração e continue na Paz!

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