Quando resolvi parar de trocar a vida pelo fim da vida e tentar viver apenas das habilidades emancipatórias cultivadas com a ajuda de muitos amigos, os riscos e dificuldades estavam todos em mapas mentais e planilhas que alimentei por alguns anos. Tudo era previsto. Até mesmo o dia em que o dinheiro acabaria e eu voltaria a ser amedrontado e massacrado por ele. Mas não tem mapa mental, planilha ou planejamento que domestique incertezas. Nesse processo, eu tive a sorte de ter muitos amigos e, entre eles, um já morto me ajudou a entender e a lidar com incertezas. Ele me disse que aquele modo de vida que eu pretendia abandonar era muito mais incerto do que o que eu pretendia abraçar. Aquele era incerto quanto à sua natureza (trocar a vida pelo fim da vida). Esse que abracei é incerto, não quanto à sua natureza, mas, somente, quanto à sua possibilidade. Possibilidade que se efetua a cada participação em oficinas, a cada pedido de manteiga, de vaso, de muda, de kit de compostagem...a cada pedido de pão, a cada dia. Como na oração que espera a efetuação da possibilidade de cada dia: "...o pão nosso de cada dia dá-nos hoje..." Um modo de vida assim é incerto? Sim...como a vida: incerta quanto às possibilidades de efetuaçao, não quanto à natureza.
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