quarta-feira, 16 de agosto de 2017

Da série: Esse aí nunca mais me pergunta nada!




- Hugo, se tu ensina a fazer pão, kombucha e tudo o que tu faz, as pessoas não vão parar de comprar de ti?
- Tá com tempo pra ouvir? Senta aí. Eu só comecei a fazer cada uma das coisas que faço, por ter percebido que elas poderiam me conferir um certo nível de emancipação, autonomia e liberdade. Seja o vaso que só rega uma vez por semana, onde cabem muitas plantas e me permitem fazer agricultura sem tempo e sem espaço, seja a criação de duas galinhas que me permitem zerar o lixo orgânico da cozinha, ter muito nutriente para as plantas e ovos, seja a compostagem/michocário em baldes, seja o pão de fermentação lenta que me livrou do pão de alto índice glicêmico cheio de bromato, margarina e ainda me levou de volta para a cozinha, seja a tentativa de ter peixes e plantas com aquaponia, seja qualquer coisa. Cada uma delas, mais do que são em si, são ferramentas emancipatórias. Conferem a mim um certo nível de liberdade que eu não tinha. E todas juntas, mais as que vou descobrindo, possibilitaram (e seguem possibilitando) a transição para uma vida em casa e da casa. Peraí, mah...levanta não que eu tô respondendo! Ora p....! Quer resposta de uma sílaba? Então...essas coisas me conferem liberdade e liberdade não é algo individual onde a minha ameaça a tua...isso é uma bobagem que ensinam pra gente. Aí, agora eu vou ler pra ti o Bakunin falando sobre liberdade. Espera ai que em meia hora eu termino a resposta para a tua pergunta!
"Só sou verdadeiramente livre quando todos os seres humanos que me cercam, homens e mulheres, são igualmente livres. A liberdade do outro, longe de ser um limite ou a negação da minha liberdade, é, ao contrário, sua condição necessária e sua confirmação. Apenas a liberdade dos outros me torna verdadeiramente livre, de forma que, quanto mais numerosos forem os homens livres que me cercam, e mais extensa e ampla for a sua liberdade, maior e mais profunda se tornará a minha liberdade."
Então, se eu lido com uma habilidade que me confere algum nível de liberdade, não faz sentido achar que quanto mais ela for SÓ minha, mais livre eu serei, pois é justamente o contrário: quanto mais as pessoas tiverem, fizerem uso dela e mais produzirem liberdade para si, mais eu serei livre. O paradigma aqui é o da abundância e não o da escassez. Por um lado, já é ruim o bastante que eu restrinja o acesso a essas coisas cobrando 30,00 numa oficina de jardinagem ou 100,00 numa oficina de pães de fermentação natural. Por outro lado isso já é uma afronta ao paradigma da escassez que cobra mais de 400,00 para te ensinar a fazer pão ou mais de 100,00 para te ensinar que tomate não nasce em prateleira de supermercado!

Certo?
--
hugo lucena theophilo
http://hugotheophilo.blogspot.com
"Cada um de nós, e cada um dos grupos em cujo seio vivemos e trabalhamos, deve se tornar o protótipo da era que desejamos criar." - Ivan Illich


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