segunda-feira, 27 de agosto de 2018

Galos, noites e quintais e a indolência de porquinhos da casa de palha

Depois que a historinha acaba, o porquinho da casa de palha está taxado de indolente, está separado de tudo o que sempre pode e impedido de efetuar suas extraordinárias potências. Só lhe resta ( conforme genial sugestão de economistas aspirantes a ministros da fazenda), procurar um curso técnico, arranjar um emprego e virar consumidor. O seu modo de vida, antes suficiente, está rebaixado a nada. A sua casa, antes um centro de produção, não existe mais. A nova moradia de tijolo e cimento adquirida por meio de financiamento de 20 anos, é mero centro de consumo. Suas habilidades ancestrais de nada lhe servem. Tudo o que ele faz é vender parte da vida desperta em troca de dinheiro para comprar o que não pode mais produzir por estar ocupado vendendo parte da vida desperta em troca de dinheiro...Seus amigos lhe dizem que deveria estar contente porque tem um emprego, é o dito cidadão respeitável e ganha quatro mil cruzeiros por mês...mas massacrado por dentro e por fora pela completa falta de sentido, por ver a vida escapar entre os dedos, vive a escrever coisas como essa:

"Quando eu não tinha o olhar lacrimoso que hoje eu trago e tenho. Quando adoçava meu pranto e meu sono no bagaço de cana do engenho. Quando eu ganhava esse mundo de meu Deus fazendo eu mesmo o meu caminho por entre as fileiras do milho verde que ondeia, com saudade do verde marinho. Eu era alegre como um rio, um bicho, um bando de pardais. Como um galo, quando havia, quando havia galos, noites e quintais. Mas veio o tempo negro e, à força, fez comigo o mal que a força sempre faz..."


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